Quando se trata de radioterapia, compreender o processo desse tratamento é essencial para os pacientes e seus familiares. Neste artigo, vamos explorar o passo a passo do tratamento de radioterapia, desde a consulta médica, passando pelas etapas de simulação em tomografia, o planejamento computadorizado, até a conclusão das sessões, oferecendo uma visão abrangente de todo o processo da radioterapia.
1. Primeira Consulta
Nessa primeira consulta, o médico radioterapeuta analisará suas queixas, seu histórico médico pessoal, revisará seus exames e com base em tudo que foi avaliado e analisado, explicará como a radioterapia irá lhe ajudar no seu caso.
Também nessa primeira consulta, o médico irá definir e explicar qual das técnicas disponíveis de radioterapia são as mais indicadas para o seu caso. Se a Radioterapia Conformacional, hoje considerada uma forma mais simples de radioterapia, ou se métodos mais avançados e tecnológicos de radioterapia, como exemplo, podemos mencionar a Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT), a Radioterapia de Arco Volumétrico (VMAT), a Radioterapia Guiada por Imagem (IGRT), ou até mesmo a Radiocirurgia (SBRT / SRS), que apesar do nome, não é uma cirurgia tradicional como conhecemos, mas sim uma forma de radioterapia realizada às vezes em uma única sessão, com extrema precisão e de altíssimas doses.
Ah Claro! Nessa consulta, o médico radioterapeuta também irá tirar todas as suas dúvidas a respeito da radioterapia.
Ao final da sua consulta, e com todas as dúvidas sanadas, o médico radioterapeuta cuidará então da burocracia para liberação de sua radioterapia com o seu seguro saúde, redigindo um relatório detalhado sobre o seu caso e as razões médicas pelas quais a radioterapia está sendo recomendada. Esse relatório será encaminhado para aprovação por parte de seu convênio médico.
2. Simulação de Tratamento
A simulação de tratamento é o primeiro passo para a programação da radioterapia. Na simulação da radioterapia, o paciente será posicionado na mesa do aparelho de tomografia computadorizado dedicado a realizar simulações para radioterapia. Esse posicionamento deve ser o mesmo que será adotado para todos os dias das sessões de radioterapia. É comum para um adequado posicionamento que máscaras crânio-faciais ou colchões de vácuo sejam utilizados, esses acessórios são individuais e visam garantir que a mesma posição adotada na simulação seja reproduzida em todas as sessões de radioterapia. Marcações com canetas resistentes e/ou adesivos podem ser aplicados na sua pele, a fim de auxiliar no seu posicionamento na mesa do Acelerador Linear, o equipamento médico que aplica a radioterapia.
Algumas recomendações podem ser passadas ao paciente dias antes da simulação da radioterapia, como algumas medicações para adequado preparo intestinal ou solicitação para beber água a fim de encher a bexiga. Parece estranho, não? Porém, um bom enchimento da bexiga no dia da simulação, assim como, a repetição desse mesmo padrão durante as sessões de radioterapia, é de fundamental importância para garantir bons resultados e minimizar a ocorrência de efeitos colaterais, nos casos de tumores na região pélvica; principalmente nos casos de câncer de próstata.
Ah! Caso você tenha histórico de reação ao uso de contraste iodado, utilizado para realização dos exames de tomografia computadorizada, avise a equipe médica da radioterapia sobre isso.
3. Planejamento Técnico Computadorizado
A equipe médica da radioterapia responsável pelo planejamento do seu caso, é composta pelo médico radioterapeuta, físico médico e dosimetrista. Esse time utilizará as imagens da simulação para planejar exatamente onde e como a radiação será aplicada. Isso envolve complexos cálculos realizados por programas de computador para garantir que a dose máxima de radiação atinja o tumor com mínima exposição aos tecidos saudáveis.
Na etapa do planejamento, um programa específico irá realizar uma reconstrução tridimensional de suas imagens na tela do computador. Assim, o médico radioterapeuta irá delinear, definir o tumor, a região ou órgão ser tratado a fim de receber a dose de radiação prescrita; bem como as estruturas que devem ser poupadas, recebendo dessa maneira a menor dose possível ou dose limite de radiação. Todo esse cuidado, garantirá o sucesso da radioterapia com mínimos efeitos colaterais.
Em seguida, entram em cena o físico médico e o dosimetrista, com finalidade de executar as outras etapas do planejamento: definição dos feixes de radiação e cálculos de dosagens.
Para minimizar a possibilidade de erros, o seu planejamento pode passar por uma segunda conferência, uma segunda checagem, antes de seguir para as próximas etapas. Essa verificação extra é realizada por um outro médico radioterapeuta e por um segundo físico médico do setor da radioterapia do hospital ou clínica onde o tratamento será realizado.
4. Aprovação do Plano Terapêutico
O plano de tratamento de radioterapia será revisado e aprovado pela equipe. Em alguns casos, podem ser necessárias uma nova simulação de tratamento ou ajustes no planejamento, antes da aprovação final.
5. Controle de Qualidade
Após aprovação do plano de tratamento de radioterapia, o físico médico e o dosimetrista realizarão testes simulando o tratamento que foi planejado e aprovado no Acelerador Linear, o equipamento médico da radioterapia, a fim de verificar e garantir que tudo esteja funcionando corretamente e que o plano aprovado será executado com precisão em cada sessão de radioterapia.
Esse teste de controle de qualidade, é realizado no Acelerador Linear com o uso de um acessório que simula um paciente. Esse aparato é denominado de “Fantoma” ou Phantom, em inglês.
6. Sessões de Radioterapia
Durante cada sessão de radioterapia, você será posicionado na mesa do Acelerador Linear da mesma forma que na simulação; as marcações que foram colocadas na sua pele, irão auxiliar nesse processo diário de posicionamento e localização.
Cada sessão radioterapia, costuma durar apenas alguns minutos. Porém, o posicionamento na mesa do equipamento e a aquisição de imagens para conferir a localização a da região a ser tratada, podem levar um pouquinho mais de tempo.
Uma pergunta bastante recorrente é: quantas sessões de radioterapia são indicadas? Bom, o número de sessões de radioterapia varia de caso para caso. Há situações em que uma única sessão com altíssimas doses é o mais recomendado, porém na maioria dos casos, o chamado fracionamento de dose é o mais comum. Nesse caso, as sessões de radioterapia podem ser em número de 5, 10, 15, 20 ou mais. De uma maneira simples, podemos dizer que o médico radioterapeuta responsável pela condução do seu caso irá definir o melhor esquema de fracionamento, de número de sessões para a sua situação, baseando-se para isso no seu diagnóstico e estágio da doença. Não devemos nos esquecer que cada caso é um caso, cada paciente é um ser único. Um bom profissional e com anos de experiência, levará tudo isso em conta nas tomadas de decisões.
7. Consultas Semanais de Revisão
Durante as sessões de radioterapia, você terá consultas regulares com seu médico radioterapeuta. Onde o especialista analisará o seu bem-estar, e ouvirá seus relatos quanto a eventuais efeitos colaterais que possam surgir, e se necessário irá prescrever medicações para minimizar e aliviar suas queixas.
Em algumas situações as sessões de radioterapia podem ser suspensas por alguns dias, e serem retomadas quando o paciente estiver se sentindo melhor e às queixas decorrentes da radioterapia estiverem mais brandas.
Os efeitos colaterais da radioterapia, variam de acordo com a região que está sendo tratada. Dessa maneira, podemos observar que pacientes que estão passando por sessões de radioterapia na região pélvica podem apresentar queixas urinárias ou digestivas (diarreia, desconforto ao evacuar) como os principais efeitos colaterais. Já as pacientes que estão se submetendo às sessões de radioterapia na mama, costumam apresentar vermelhidão (eritema) e descamação na pele (não é queimadura!). Não se assuste! Pois essas queixas são facilmente amenizadas com uso de medicações específicas que o seu médico irá prescrever.
8. Seguimento Após a Radioterapia
Após a conclusão das sessões de radioterapia, você terá consultas de acompanhamento regulares. Isso pode incluir exames físicos, de sangue ou de imagem para avaliar como foi a sua resposta à radioterapia e garantir que não haja recorrência do câncer.
Esse seguimento é importante para garantir que tudo está evoluindo bem, ou para detectar qualquer evidência de recidiva, de recorrência do tumor tratado. Quer essa recaída da doença se manifeste no local operado, no local que foi irradiado ou em outra parte do corpo (metástase).
Conclusão
A radioterapia é um tratamento eficaz e vital no combate ao câncer. Compreender o processo de tratamento, desde o planejamento inicial até à realização das sessões e cuidados pós-tratamento, pode ajudar a aliviar a ansiedade e garantir que você esteja preparado para enfrentar o desafio. Se você tiver dúvidas ou preocupações sobre o seu tratamento de radioterapia, não hesite em entrar em contato com sua equipe médica. Estamos aqui para ajudar e apoiá-lo em cada passo do caminho.
Referências Bibliográficas
- Halperin, E.C., Wazer, D.E., Perez, C.A., & Brady, L.W. (2018). Perez & Brady’s Principles and Practice of Radiation Oncology. 7th edition. Lippincott Williams & Wilkins.
- Gunderson, L.L., & Tepper, J.E. (2019). Clinical Radiation Oncology. 4th edition. Elsevier.
- National Comprehensive Cancer Network (NCCN). NCCN Clinical Practice Guidelines in Oncology: Principles of Radiation Therapy. NCCN.org.
- Baskar, R., Lee, K.A., Yeo, R., & Yeoh, K.W. (2012). Cancer and Radiation Therapy: Current Advances and Future Directions. International Journal of Medical Sciences, 9(3), 193-199. DOI: 10.7150/ijms.3635.
- American Cancer Society. (2021). Understanding Radiation Therapy: A Guide for Patients and Families. cancer.org.
- National Cancer Institute (NCI). (2021). Radiation Therapy for Cancer. cancer.gov.
- Veldeman, L., Madani, I., Hulstaert, F., De Meerleer, G., Mareel, M., & De Neve, W. (2008). Evidence behind use of intensity-modulated radiotherapy: a systematic review of comparative clinical studies. The Lancet Oncology, 9(4), 367-375. DOI: 10.1016/S1470-2045(08)70098-6.
- Jaffray, D.A., & Gospodarowicz, M. (2019). Radiation Therapy for Cancer. Hematology/Oncology Clinics of North America, 33(6), 1001-1020. DOI: 10.1016/j.hoc.2019.07.004.
- American Society for Radiation Oncology (ASTRO). (2021). Safety is No Accident: A Framework for Quality Radiation Oncology and Care. astro.org.
- American College of Radiology (ACR). (2021). ACR Appropriateness Criteria®. acr.org.
