Queloide do Piercing e a Betaterapia

Por: Dr. Rodrigo Motta 4 de janeiro de 2019

Queloide é um crescimento anormal, porém benigno de tecido cicatricial que se forma no local de uma perfuração, corte ou cirurgia da pele. Acomete ambos os sexos, embora exista uma maior incidência entre as mulheres.

O processo de formação do queloide é multifatorial e alguns mecanismos biológicos do seu aparecimento ainda são explicações controversas, porém alguns achados são consenso entre os especialistas, como fatores étnicos/raciais onde observa-se uma maior prevalência em negros e seus descendentes, assim como entre os asiáticos; em momentos de hipersecreção da hipófise (adolescência e gravidez); histórico familiar; e localização, onde ombros, tórax (anterior e posterior), e orelhas são as regiões mais propensas à formação do queloide.

A orelha é sem dúvida alguma uma localização de risco elevado para a formação de queloides, e a incidência desta cicatriz neste órgão vem aumentando progressivamente, principalmente nos grandes centros urbanos devido à popularização entre os jovens pelo uso de piercings.

O ato de fazer uma perfuração na pele, na orelha para inserir uma peça de metal é denominado de piercing; to pierce é furar, perfurar; e a peça inserida, pode ter tamanho e forma variáveis.

Embora atualmente o uso de piercing na orelha ou em outras partes do corpo pareça algo estiloso e moderno, essa prática é muito antiga. Assim como as tatuagens, e esse tipo de arte corporal já passou por muitas civilizações antigas. Sabe-se que o piercingna orelha foi considerado por muitos povos uma forma de mostrar riqueza e status social, e também era interpretado como um símbolo de sensualidade.

As possibilidades de perfuração são diversas. Embora a orelha seja uma parte pequena do corpo, é justamente nela que muitas formas de se usar um piercingsão encontradas. As mais comuns são no lóbulo, na helix (cartilagem), ou no tragus.

Estudos têm demonstrado que a colocação de piercingsna orelha após os 11 anos de idade, estaria associada a uma maior incidência de queloides. Como o procedimento de colocação de brincos e demais adornos na orelha gera uma perfuração, “o trauma”, e deste dano à pele, surge como resposta o processo inflamatório, assim como reações e alergias que venham a ocorrer por conta do brinco metálico (corpo estranho), todos estes fatores somados sem sombra de dúvidas colaboram para o estímulo à formação do queloide. Isso sem contar os aspectos individuais de cada pessoa, os riscos que cada um carrega para o surgimento destas cicatrizes.

A maioria dos piercings são joias de metal, e geralmente contém ouro, nióbio, titânio, e especialmente níquel em sua composição. Sabe-se que o níquel é extremamente alergênico e pode desencadear reações inflamatórias, mesmo meses após a perfuração da orelha, gerando um estímulo tardio para que o queloide seja formado.Um bom material é o aço cirúrgico, raramente causa alergia, além de mostrar excelente durabilidade e não escurecer com o tempo.

A betaterapia é um procedimento médico cientificamente reconhecido pelas Sociedades Brasileiras de Cirurgia Plástica, de Dermatologia, e Radioterapia. A técnica consiste no uso de radiação beta emitida por uma fonte de Estrôncio 90. Esta modalidade de tratamento está indicada à prevenção de queloides em qualquer parte do corpo, e o seu uso está restrito ao médico radioterapeuta (especialista em radiações com finalidades terapêuticas).

A betaterapia está indicada a pacientes que tenham sido submetidas(os) à ressecção cirúrgica de cicatriz queloideana, ou que tenham tendência à formação de queloide e estejam programando passar por cirurgias plásticas, cesarianas, ou eventualmente à uma simples colocação de piercing.

Caso o paciente deseje fazer um piercing, e tenha riscos para a formação de queloide, o uso da betaterapia após a perfuração deve ser considerado, por se tratar de um procedimento que comprovadamente reduz as chances de surgimento de queloides.

Quando começar? as sessões de betaterapia devem ter início em no máximo 48 horas após a perfuração, período em que os fibroblastos começam a se proliferar.

Quantas sessões são necessárias após a perfuração? Após avaliação médica, cerca de 5 a 10 sessões em dias consecutivos para os casos de piercingsão necessárias.

Sentirei alguma dor ou incomodo? Não, a betaterapia não causa nenhum tipo de dor ou desconforto, assim como não produz nenhum efeito colateral.

A betaterapia pode ser aplicada ao queloide já formado? Não. A Betaterapia é um tratamento preventivo, sendo assim, deve ser empregada logo após a colocação do piercing. Porém caso o paciente possua um queloide na orelha, o tratamento recomendado é a ressecção cirúrgica desta lesão, seguida de betaterapia; esta é a conduta recomendada pelas Sociedades Médicas de Cirurgia Plástica e de Radioterapia, consiste na retirada cirúrgica da cicatriz e o início imediato da Betaterapia.

O uso de radiação não seria perigoso? Não! Na prevenção de formação do queloide, a radiação empregada é um tipo de radiação bem leve (radiação Beta), que penetra alguns poucos milímetros da pele.

Quais o percentual de sucesso do tratamento? É elevado. Acima de 80-90%.

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Fontes:

1) J Cutan Aesthet Surg. 2018 Jan-Mar;11(1):7-12. Piercing Ear Keloid: Excision Using Loupe Magnification and Topical Liquid Silicone Gel as Adjuvant.Ramesh BA, Mohan J.

2) Australas J Dermatol. 2015 Aug;56(3):e77-9. Does ear keloid formation depend on the type of earrings or piercing jewellery?Hochman B, Isoldi FC, Silveira TS, Borba GC, Ferreira LM.

3) J Cutan Aesthet Surg. 2014 Apr;7(2):98-102. Efficacy of triple therapy in auricular keloids. De Sousa RF, Chakravarty B, Sharma A, Parwaz MA, Malik A.