Por que a minha cicatriz está vermelha?

Por: Dr. Rodrigo Motta 22 de novembro de 2019

A cicatrização é um processo biológico natural e fundamental para manter a integridade da nossa pele. Toda vez que sofremos um corte, uma escoriação, ou uma queimadura por mais leve que seja, uma série de processos orgânicos são desencadeados no local para tentar recuperar o tecido que foi lesado.

A cicatrização normal passa por três fases. Na primeira fase, a inflamatória, que se inicia imediatamente após a lesão, com a liberação de substâncias vasoconstritoras e plaquetas que estimulam a coagulação, levando à formação do coágulo. Na segunda fase, a fibroproliferativa, observamos a surgimento de novos vasos sanguíneos, formação de tecido de granulação e deposição de colágeno. Esta fase tem início ao redor do 4º dia após a lesão e se estende aproximadamente até o término da segunda semana. Os fibroblastos e as células endoteliais são as principais células da fase proliferativa. Os fibroblastos dos tecidos vizinhos migram para a ferida, onde produzem colágeno.

O colágeno tem a propriedade de unir os tecidos entre si, e penetra naturalmente na lesão, dando origem a fibras que se tornam cada vez mais firmes, para formar a cicatriz. Ao mesmo tempo, ocorrem a migração e proliferação das células na borda do corte, que se encarregam de regenerar a pele, fechando-o.

Na terceira fase, vem a maturação, o número de vasos sanguíneos e fibroblastos diminui consideravelmente, o que determinará a evolução da cor da cicatriz, que passa do avermelhado para o branco. A duração deste processo varia de pessoa para pessoa e de acordo com o tipo de cirurgia, mas, em geral, o seu aspecto definitivo ocorre de 6 meses a um ano. Quando, no processo de evolução da cicatrização, forma-se uma linha mais grossa ou muito aumentada, às vezes até dolorosa.

Quanto maior for o tamanho deste ferimento, maior será a cicatriz. Muitas cicatrizes inicialmente inestéticas tornam-se aceitáveis com o passar do tempo; em geral em um ano ou mais. O aspecto da cicatriz dependerá da sua localização, cor, textura, comprimento, largura e profundidade. Alguns locais do corpo caracteristicamente apresentam forte tendência em formar cicatrizes mais evidentes e inestéticas.

Nas áreas de movimentação constante, como o tórax e os ombros, uma cicatriz inicialmente bem conduzida pode tornar-se alargada. Algumas cicatrizes formadas após uma incisão cirúrgica, quase não deixam vestígios. Porém outras, como as cicatrizes provocadas por queimaduras, às vezes, são muito extensas e podem causar problemas sérios para a vida do paciente.

Inúmeros fatores influenciam o processo de cicatrização: fatores relacionados ao próprio paciente, a localização do ferimento, o tipo de trauma que produziu o dano na pele e a evolução do processo de cicatrização. Mesmo assim, o resultado final é algo imprevisível na maioria dos casos.

Não se deve esquecer que assim que o cirurgião retirar os pontos, a cicatriz ainda continua a merecer cuidados.

Durante o processo de cicatrização são fundamentais alguns cuidados, como hidratação da pele com cremes apropriados. Importante também, é o alerta para que a paciente não tome sol no local enquanto a cor da cicatriz não tiver adquirido a tonalidade normal da pele, utilizando filtro solar para proteger a cicatriz como faria com a pele de qualquer outra parte do corpo.

Caso o paciente tenha riscos para a formação de queloide ou cicatriz hipertrófica, o uso da betaterapia após a cirrugia deve ser considerado, por se tratar de um procedimento que comprovadamente reduz as chances de surgimento de queloides ou cicatrizes hipertróficas.