O que é Radioterapia? Tudo o que Você Precisa Saber

Por: Dr. Rodrigo Motta 21 de junho de 2024

A radioterapia é um tratamento amplamente utilizado no combate ao câncer, mas muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre como de fato a radioterapia funciona e o que esperar desse tratamento em relação aos resultados e possíveis efeitos colaterais.

Neste artigo, vamos desmistificar a radioterapia, explicando seus princípios básicos, como ela é realizada, os principais tipos de radioterapia disponíveis e os benefícios que oferecem. Nosso objetivo é fornecer todas as informações necessárias para que você, seus familiares e amigos possam entender melhor a radioterapia, sem qualquer tipo de medo ou receio desse tratamento tão essencial e indispensável no combate ao câncer.

O que é Radioterapia?

A radioterapia é um método de tratamento que utiliza radiação ionizante para destruir células cancerígenas. A radioterapia vem sendo utilizada desde o início do século 20, e de lá pra cá muita coisa mudou, principalmente nas últimas décadas com a incorporação de novas tecnologias. Por isso já adianto; os efeitos colaterais atribuídos no passado à radioterapia, diminuíram muito.

Mas vamos lá! Na radioterapia, a radiação é gerada por um equipamento chamado de Acelerador Linear ou por fontes radioativas, essa radiação é então direcionada para o tumor ou para o local de onde esse tumor foi removido (leito tumoral). A radioterapia tem como objetivo, danificar o DNA das células doentes, impedindo que elas se multipliquem e cresçam. Esse processo ajuda a eliminar tumores e reduzir o risco de que um tumor que foi cirurgicamente removido, possa voltar a crescer nesse local; nesse caso, podemos usar como exemplo as pacientes com diagnóstico de câncer de mama, que passam por sessões de radioterapia após a cirurgia. A radioterapia também pode ser muito bem empregada no tratamento de quadros mais avançados, onde a doença costuma acometer outros órgãos, como osso, cérebro, pulmão ou fígado. Mas calma! Não se assuste, pois hoje em dia há recursos de alta tecnologia na radioterapia que possibilitam tratamentos com baixíssimos efeitos colaterais e excelentes resultados.

Como Funciona a Radioterapia?

O funcionamento da radioterapia baseia-se no uso de altas doses de radiação geradas por Acelerador Linear ou por fontes radioativas. Essa radiação de alta intensidade é capaz de matar as células cancerígenas. Daí surge a dúvida: mas essa radiação sendo tão forte assim, também pode matar minhas células normais? As células normais podem até serem danificadas, mas conseguem se reparar entre uma sessão e outra da radioterapia. Já as células tumorais, têm menor capacidade de recuperação, o que as torna mais vulneráveis à radioterapia.

A radioterapia pode ser utilizada de duas formas principais:

  1. Radioterapia Externa: também conhecida como teleterapia, essa forma de radioterapia é a mais utilizada no tratamento oncológico. Nesse tipo de radioterapia, a radiação é gerada a uma certa distância do paciente (80 – 100 cm). Os equipamentos médicos utilizados nessa modalidade de radioterapia são os chamados Aceleradores Linerares que podem emitir radiação na forma de Raio-X ou Elétrons.
  2. Braquiterapia: diferente da radioterapia externa; aqui, nessa modalidade de radioterapia, a fonte de radiação não é posicionada a uma certa distância do paciente, mas sim em contato, dentro do tumor ou órgão doente. Podemos mencionar a braquiterapia ginecológica bastante utilizada em nosso país no tratamento do câncer de útero, e também a braquiterapia prostática no tratamento do câncer de próstata, onde pequenas fontes de radiação (sementes de iodo radioativo) são implantadas na próstata via ultrassonografia transretal, permitindo uma dose alta de radiação acha diretamente no tumor e no órgão potencialmente afetado.

Qual a melhor técnica de Radioterapia Externa?

A forma, a técnica como a radioterapia externa será administrada está na dependência da avaliação do seu caso pelo médico radioterapeuta. Porém, vale explicar que a radioterapia passou por importantes inovações e incorporações tecnológicas nas últimas décadas, isso eu posso afirmar com propriedade, ao longo desses 30 anos na especialidade.

  • Radioterapia Conformacional ou Tridimensional: essa forma de radioterapia, já foi considerada moderna e inovadora quando foi incorporada pelos grandes hospitais brasileiros em meados da década de 1990, quando comecei a minha residência médica no Hospital Sírio Libanês. A radioterapia conformacional utiliza imagens tridimensionais adquiridas em tomografia, sendo assim possível definir o formato do feixe de acordo com o formato do tumor, daí o nome de radioterapia conformacional. Até então, não era possível definir esse formato; o feixe de radiação sempre era quadrado ou retangular o que acabava não poupando os tecidos saudáveis ao redor do tumor. Hoje a radioterapia conformacional deixou de ser uma forma avançada de radioterapia, mas ainda assim é muito utilizada, principalmente em casos, onde não haja a necessidade de utilizar alta tecnologia.
  • Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT): podemos dizer que essa forma de radioterapia está um degrau acima da radioterapia conformacional, pois além de ajustar-se ao formato desejado a ser irradiado, permite transformar um feixe de radiação plano em um feixe com pontos e níveis variados de radiação, proporcionando que doses mais altas sejam liberadas ao mesmo tempo em que poupa os tecidos sadios ao redor do tumor, permitindo assim, uma radioterapia mais precisa e eficaz.
  • Radioterapia de Arco Modulado Volumétrico (VMAT): a VMAT é uma forma avançada e tecnológica de radioterapia que também ajusta a intensidade do feixe de radiação, porém de maneira mais contínua e rápida. Em vez de utilizar feixes estáticos de radiação, parados em diferentes ângulos como na IMRT, o Acelerador Linear quando operando em VMAT gira em torno do paciente em um ou mais arcos completos. Durante essa rotação, a intensidade do feixe e a formato do feixe são continuamente ajustados. Isso permite que o tratamento seja concluído em menos tempo. Ambas as técnicas são altamente precisas e eficazes na proteção dos tecidos saudáveis, mas a VMAT é mais rápida e pode ser indicada em alguns casos.
  • Radioterapia Guiada por Imagem (IGRT): A IGRT é uma técnica extremamente avançada de radioterapia que utiliza os recursos de aquisição imagens para guiar e ajustar o tratamento. Basicamente, a IGRT permite que os médicos vejam o tumor e a área ao redor em tempo real, garantindo que a radiação seja direcionada exatamente onde é necessária, mesmo se o tumor ou os órgãos próximos se moverem entre as sessões, o que ocorre com a próstata a depender do enchimento da bexiga, ou com os tumores localizados nos pulmões ou fígado, que se movem por conta da respiração. Com a ajuda da IGRT, os médicos podem direcionar a radiação de forma mais eficaz, aumentando as chances de sucesso da radioterapia e reduzindo os efeitos colaterais.
  • Radioterapia Estereotática Corporal (SBRT) e Radiocirurgia: a Radioterapia Estereotática Corporal e a radiocirurgia são ambas técnicas avançadas de radioterapia que usam alta precisão para tratar tumores, mas existem algumas diferenças importantes entre elas. Vamos entender melhor cada uma. A Radioterapia Estereotática Corporal é altamente precisa e utiliza altas doses de radiação em poucas sessões (1 – 5), para tratar geralmente tumores pequenos e bem localizados nos pulmões, próstata, fígado ou outras partes do corpo. Já a radiocirurgia, que apesar do nome não é uma cirurgia tradicional, mas sim uma radioterapia estereotática de enorme precisão, onde uma dose única e extremamente elevada é liberada para o tratamento de tumores e outras condições não malignas no cérebro e na coluna vertebral.
  • Radioterapia Intraoperatória (IORT): Aplicada durante a cirurgia, diretamente na área do tumor ou no leito tumoral, permitindo uma dose concentrada e poupando os tecidos normais.

Em quais situações a Radioterapia costuma ser indicada?

  • Câncer de Mama: Pode ser usada após a cirurgia para eliminar eventuais células cancerígenas remanescentes e reduzir o risco de recorrência.
  • Câncer de Próstata: Pode ser usada como tratamento principal ou após a cirurgia para casos que apresentem alto risco de retorno (recidiva) do tumor.
  • Câncer de Pulmão: Pode ser usada sozinha ou em combinação com cirurgia e quimioterapia, dependendo do estágio e localização do tumor.
  • Câncer de Cabeça e Pescoço: Frequente em combinação com cirurgia e/ou quimioterapia para tratar tumores na boca, garganta e outras áreas da cabeça e pescoço.
  • Câncer Colorretal: Pode ser usada antes (neoadjuvante) ou após (adjuvante) a cirurgia para reduzir o tamanho do tumor e/ou eliminar células cancerígenas remanescentes.
  • Linfomas: Tanto linfomas de Hodgkin quanto não-Hodgkin podem ser tratados com radioterapia, frequentemente em combinação com quimioterapia.
  • Radioterapia para Dor: Para reduzir a dor causada por tumores que comprimem nervos ou ossos.
  • Redução de Tumores: Para reduzir o tamanho de tumores que causam obstruções ou sintomas em órgãos como pulmões, esôfago ou intestinos.
  • Radioterapia de Metástases: Para tratar metástases ósseas, cerebrais, ou em outras áreas, aliviando sintomas e melhorando a qualidade de vida.

Radioterapia Adjuvante e Neoadjuvante, qual a diferença?

  • Radioterapia Adjuvante (após a cirurgia): Para eliminar eventuais células cancerígenas remanescentes no local da cirurgia e reduzir o risco de recorrência, como em casos de câncer de mama, próstata e colorretal.
  • Radioterapia Neoadjuvante (antes da cirurgia): Para reduzir o tamanho do tumor, facilitando a remoção cirúrgica e aumentando as chances de sucesso da cirurgia, como nos casos de tumores de reto.
  • Radioterapia Profilática (Radioterapia Preventiva):
  • Prevenção de Metástases Cerebrais: Em pacientes com câncer de pulmão de pequenas células, a radioterapia profilática craniana pode ser usada para prevenir a propagação do câncer para o cérebro.
  • Radioterapia nos Tumores Cerebrais:
  • Gliomas e Metástases Cerebrais: A radioterapia pode ser usada para tratar tumores cerebrais primários e metástases, muitas vezes em combinação com cirurgia e/ou quimioterapia.
  • Radioterapia Estereotática (SBRT e Radiocirurgia):
  • Tumores de Pulmão: SBRT é usada para tratar tumores pequenos e localizados em pacientes que não são candidatos à cirurgia.
  • Tumores Cerebrais: Radiocirurgia estereotática, é usada para tratar tumores e malformações vasculares no cérebro com alta precisão.
  • Radioterapia nos Tumores Ginecológicos:
  • Câncer de Colo do Útero e Endométrio: Pode ser usada em combinação com cirurgia e/ou quimioterapia para tratar tumores ginecológicos.
  • Radioterapia nos Tumores Pediátricos:
  • Neuroblastoma, Meduloblastoma e Rabdomiossarcoma: Radioterapia pode ser usada como parte do tratamento multimodal em cânceres pediátricos.

O Processo da Radioterapia: Passo a Passo

Se você tem indicação de passar por sessões de radioterapia, pode estar se perguntando como funciona o processo. Aqui está um guia simples para ajudá-lo a entender e o que esperar em cada etapa.

1. Primeira Consulta

Nessa primeira consulta, o médico radioterapeuta analisará suas queixas, seu histórico médico pessoal, revisará seus exames e com base em tudo que foi avaliado e analisado, explicará como a radioterapia irá lhe ajudar no seu caso. Claro! Também irá tirar todas as suas dúvidas.

O médico radioterapeuta fará um relatório detalhado sobre o seu caso e as razões médicas pelas quais a radioterapia está sendo recomendada. Esse relatório será encaminhado para aprovação por parte de seu convênio médico.

2. Simulação de Tratamento

A simulação de tratamento é o primeiro passo para a programação da radioterapia. Na simulação da radioterapia, o paciente será posicionado na mesa do aparelho de tomografia computadorizado dedicado a realizar simulações para radioterapia. Esse posicionamento deve ser o mesmo que será adotado para todos os dias das sessões de radioterapia. É comum para um adequado posicionamento que máscaras crânio-faciais ou colchões de vácuo sejam utilizados, esses acessórios visam garantir que a mesma posição adotada na simulação seja reproduzida em todas as sessões de radioterapia. Marcações com canetas resistentes e/ou adesivos podem ser aplicados na sua pele, a fim de auxiliar no seu posicionamento na mesa do Acelerador Linear, o equipamento médico que aplica a radioterapia.

Algumas recomendações podem ser passadas ao paciente dias antes da simulação da radioterapia, como algumas medicações para adequado preparo intestinal ou solicitação para beber água a fim de encher a bexiga.

Ah! Caso você tenha histórico de reação ao uso de contraste iodado, utilizado para realização dos exames de tomografia computadorizada, avise a equipe médica da radioterapia sobre isso.

3. Planejamento Técnico

A equipe médica da radioterapia (médico radioterapeuta, físico médico e dosimetrista) usará as imagens da simulação para planejar exatamente onde e como a radiação será aplicada. Isso envolve complexos cálculos realizados por programas de computador para garantir que a dose máxima de radiação atinja o tumor com mínima exposição aos tecidos saudáveis.

4. Aprovação do Plano

O plano de tratamento de radioterapia será revisado e aprovado pelo seu radioterapeuta. Em alguns casos, podem ser necessárias simulações adicionais ou ajustes no plano antes da aprovação final.

5. Controle de Qualidade

Após aprovação do plano de tratamento de radioterapia, o físico médico e o dosimetrista realizarão testes simulando o tratamento que foi planejado e aprovado no Acelerador Linear, o equipamento médico da radioterapia, a fim de verificar e garantir que tudo esteja funcionando corretamente e que o plano aprovado será executado com precisão em cada sessão de radioterapia.

6. Sessões de Radioterapia

Durante cada sessão de radioterapia, você será posicionado na mesa do Acelerador Linear da mesma forma que na simulação; as marcações que foram colocadas na sua pele, irão auxiliar.

Cada sessão radioterapia, costuma durar apenas alguns minutos. Porém, o posicionamento na mesa do equipamento e a aquisição de imagens, podem levar um pouquinho mais de tempo.

7. Consultas Semanais de Revisão

Durante as sessões de radioterapia, você terá consultas regulares com seu médico radioterapeuta. Onde o especialista analisará o seu bem-estar, e ouvirá seus relatos quanto a eventuais efeitos colaterais que possam surgir, e se necessário irá prescrever medicações para minimizar e aliviar suas queixas.

Em algumas situações as sessões de radioterapia podem ser suspensas por alguns dias.

8. Seguimento Após a Radioterapia

Após a conclusão das sessões de radioterapia, você terá consultas de acompanhamento regulares. Isso pode incluir exames físicos, de sangue ou de imagem para avaliar como foi a sua resposta à radioterapia e garantir que não haja recorrência do câncer.

Conclusão

A radioterapia é um tratamento cuidadosamente planejado e monitorado para garantir eficácia e segurança, adaptando-se às suas necessidades específicas. Fazer perguntas e compartilhar preocupações com sua equipe médica é essencial durante todo o processo.

Entender como a radioterapia funciona e o que esperar pode aliviar a ansiedade e preparar melhor os pacientes e suas famílias. Se tiver dúvidas ou quiser saber mais, deixe um comentário abaixo ou entre em contato com nossa equipe. Estamos aqui para ajudar!

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