Nutrição e Queloides

Por: Dr. Rodrigo Motta 22 de março de 2019

Após um ferimento ou incisão cirúrgica, surge um processo inflamatório normal e esperado, que sinalizará para o nosso corpo que ele deve começar a cicatrização. Porém, esta sequência de eventos pode ser comprometida caso já exista um estado de pré-inflamação estabelecido.

Comer camarão pode modificar os níveis de algumas proteínas no organismo, o crustáceo tem concentrações elevadas de quitosana, uma molécula que favorece a inflamação da pele levando a um estado inflamatório. E o processo inflamatório é o pior inimigo de quem passou ou vai passar por uma cirurgia.

Em um quadro inflamatório exacerbado, além do risco aumentado de abertura dos pontos, outro que pode aparecer, é o da formação de cicatriz hipertrófica ou queloide, quando mais células de defesa são recrutadas para ajudar a fechar a ferida, havendo um maior estímulo para a formação de colágeno no local. Esse excesso na produção de colágeno, aumenta o risco de desenvolver queloide, uma cicatriz alta e espessa que ultrapassa as barreiras da pele.

O camarão não é o único vilão. Para se ter ideia, todos os alimentos ricos em gordura animal e gordura trans, podem piorar o quadro inflamatório.

A carne, por proporcionar aminoácidos essenciais para a síntese do colágeno, deve fazer parte da dieta. Preferência deve ser dada aos cortes mais magros e aos peixes principalmente os ricos (sardinha, salmão, atum e bacalhau) em ômega-3, que tem ação anti-inflamatória.

Quem dá força extra no combate à inflamação melhorando a cicatrização são as frutas, por causa do conteúdo de antioxidantes. Se apostar naquelas com quantidades abundantes de vitamina C, melhor ainda, visto que esta vitamina é fundamental para a produção de colágeno.

Em relação aos minerais, não podemos deixar de mencionar o zinco. Indivíduos com baixos níveis deste mineral mostram maior tendência à formação de queloides, pelo fato da síntese de colagenase necessitar de zinco. A colagenase é a enzima que degrada o excesso de colágeno. Carnes, jeijão e vegetais folhosos são ótimas fontes de zinco.

Ficar com uma cicatriz fina e discreta, quase imperceptível, contar com um cirurgião experiente e habilidoso, não é o suficiente. Também é necessário que a paciente faça a sua parte, e essa pequena tarefa começa com a escolha dos alimentos, apesar desta cobrança nem sempre partir dos médicos. Apesar de a tarefa nem sempre ser cobrada pelo cirurgião, vale a pena segui-la à risca.

Veja, agora, o resumo do que pode e do que não pode entrar no cardápio para melhorar a cicatrização.

Evite:

Camarão – o crustáceo tem concentrações elevadas de quitosana, uma molécula que favorece a inflamação da pele.
Carne de porco – ela também inflama a pele, o que pode levar a um aumento na produção de colágeno e gerar o queloide.
Soja – as isoflavonas presentes na soja estimulam a liberação de substâncias no corpo aumentando mais e mais inflamação na cicatriz.
Pimenta – ela tem capsaicina, substância que é ótima para as artérias, mas um tanto quanto agressiva para a pele. Melhor evitar nesse período.

Inclua:

Vitamina C – presente em frutas como a laranja, graviola e acerola. Esta vitamina é essencial para a formação adequada do colágeno, para a regeneração tecidual.
Castanhas e nozes – as gorduras insaturadas presentes nesses alimentos, conferem poder anti-inflamatório, além de serem boas fontes de zinco, mineral que garante o equilíbrio entre produção e degradação de colágeno.
Peixes e carnes magras – os cortes magros de carne vermelha incentivam a formação do colágeno, através do aporte de aminoácidos. Já os pescados fornecem ômega-3, gordura com ação anti-inflamatória.
Vegetais arroxeados – a cor indica a oferta de antocianina, um dos antioxidantes mais efetivos para a pele. Cereja, beterraba e berinjela estão cheias dela.