Mitos e verdades sobre cicatrizes

Por: Dr. Rodrigo Motta 6 de novembro de 2020

Lesões na pele são situações comuns em nossa vida. Pequenos arranhões, cortes, queimaduras e até mesmo cirurgias. Pode não parecer, mas a cicatrização é um processo complexo, marcada por fases e que envolve diversas etapas até chegar ao amadurecimento e resultado final em que a lesão cicatriza por completo, e esse processo todo pode durar até dois anos em algumas pessoas. Cada organismo tem o seu próprio ritmo.

Nem todos sabem como cuidar corretamente de suas cicatrizes e, pior, acabam compartilhando informações equivocadas que podem prejudicar ainda mais o tratamento.

Se você já ouviu de tudo um pouco sobre o assunto e não sabe mais em que acreditar, fique tranquila. Fizemos uma lista dos principais mitos e verdades que rodeiam nossa cabeça quando o assunto é tratamentos de feridas e cicatrizes.

Algumas áreas do nosso corpo cicatrizam melhor do que outras?
Verdade! Em geral, as áreas mais vascularizadas do nosso corpo exibem uma cicatrização melhor do que as demais. Esse é o caso da pálpebra, do couro cabeludo e das mucosas. Entre as piores regiões quando o assunto é cicatrização, estão os tornozelos e a região do colo.

Aplicar mel, açúcar, pó de café ou outras receitinhas caseiras em feridas acelera a cicatrização?
Mito! Aplicar “produtos naturais” por conta própria é algo bastante perigoso, pois pode atrapalhar a cicatrização em vez de ajudá-la. Isso acontece porque tais tipos de “remédios caseiros” oferecem o risco de levar alguma bactéria ou fungo para a ferida. O recomendado é lavar a ferida com água e sabonete neutro, além de procurar um profissional qualificado.

A alimentação influencia no processo de cicatrização?
Verdade! Dependendo do que ingerimos no período de cicatrização, é possível facilitá-la ou dificultá-la. Alimentos com muitas proteínas, por exemplo, ajudam na formação do tecido, ao passo que os ricos em ômega 3 reduzem as chances de inflamação. Já os alimentos gordurosos e açucarados aumentam a inflamação e dificultam a circulação do sangue, atrapalhando a cicatrização.

A ferida deve ser lavada durante o banho?
Mito! A ferida deve ser lavada apenas com soro fisiológico ou com soluções específicas para limpeza de feridas. A água do banho fica contaminada com a sujeira do nosso corpo e, ao escorrer pela ferida, pode contaminá-la. O ideal é, antes do banho, proteger a região com material impermeável, como plástico filme.

Feridas que demoram muito para cicatrizar podem indicar algum problema de saúde?
Verdade! Algumas doenças influenciam diretamente na evolução cicatricial. É o caso do diabetes, câncer e lúpus. Assim, é importante buscar acompanhamento médico para lesões que demoram a cicatrizar.

Toda cicatriz pode virar queloide?
Mito. A formação do queloide não é algo muito comum, mas alguns fatores podem fazer com que esse processo aconteça. Entre eles, o mais relevante é a genética, o histórico familiar. Quem sabidamente tem essa predisposição deve tomar algumas precauções se for passar por uma cirurgia, como a necessidade de betaterapia.

Cicatrizes nunca desaparecem?
Verdade. Uma vez formada, a cicatriz é para o resto da vida. Apesar disso, é possível tratá-la para que seu aspecto fique melhor. Em alguns casos, é melhor nem fazer uma cirurgia para arrumar a cicatriz, especialmente se a mudança a ser realizada for muito pequena. Isso porque a tendência da cicatriz é ficar com uma aparência melhor com o passar do tempo.

Fazer tatuagens em cima da cicatriz pode trazer riscos
Mito! A tatuagem não vai prejudicar a cicatriz, desde que ela não seja recente. Na verdade, essa é uma estratégia bastante usada para disfarçá-la, no entanto, o ideal, é esperar a cicatriz atingir a maturidade, após um ano, pois nesse período a cicatrização já estará bem evoluída.

Roupas apertadas atrapalham a cicatrização?
Mito! As roupas apertadas não interferem de maneira alguma na cicatrização. Na verdade, faixas elásticas de compressão podem inclusive chegar a ajudar nesse processo, pois a força realizada favorece a redução da cicatriz.

O protetor solar é suficiente para proteger a cicatriz do sol?
Mito! O protetor solar é extremamente importante, mas não protege completamente a cicatriz dos raios solares. O ideal é não expô-la ao sol em hipótese alguma, a fim de evitar a hiperpigmentação.

A cicatrização é um processo biológico natural e fundamental para manter a integridade da nossa pele. Toda vez que sofremos um corte, uma escoriação, ou uma queimadura por mais leve que seja, uma série de processos orgânicos são desencadeados no local para tentar recuperar o tecido que foi lesado.

Vale ressaltar que inúmeros fatores influenciam o processo de cicatrização: fatores relacionados ao próprio paciente, a localização do ferimento, o tipo de trauma que produziu o dano na pele e a evolução do processo de cicatrização. Mesmo assim, o resultado final é algo imprevisível na maioria dos casos.

Não se deve esquecer que assim que o cirurgião retirar os pontos, a cicatriz ainda continua a merecer cuidados.

Durante o processo de cicatrização são fundamentais alguns cuidados, como hidratação da pele com cremes apropriados. Importante também, é o alerta para evitar a exposição solar.

Mas se você tem tendência à formação de queloides ou cicatrizes hipertróficas, deve considerar a realização de sessões de Betaterapia após a cirurgia, pois a Betaterapia é um procedimento utilizado há décadas, sendo reconhecido cientificamente pelas Sociedades Brasileiras de Cirurgia Plástica, Dermatologia e Radioterapia, e de acordo com os trabalhos científicos publicados, pode-se afirmar que a Betaterapia previne 80% dos casos, a formação de queloides e cicatrizes hipertróficas.