Imunoterapia – Tudo que Você Precisa Saber

Por: Dr. Rodrigo Motta 16 de abril de 2024

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 30% da população mundial sofre de doenças alérgicas, como rinite, asma, dermatite atópica.

As alergias são doenças multifatoriais causadas pela interação de fatores genéticos e exposição a fatores ambientais, onde o processo inflamatório é considerado o principal evento fisiopatológico. Esse processo inflamatório pode acometer a mucosa nasal (rinite), a árvore brônquica (asma) e também a pele (dermatite atópica).

O mecanismo imunológico envolvido nas alergias é mediado por anticorpos da classe IgE e o principal fator agravante ou precipitante das crises são os alérgenos ambientais; dentre estes, podem ser citados como os mais frequentes a poeira doméstica, ácaros, fungos, epitélio de animais, barata e pólen.

Imunoterapia

A imunoterapia para tratamento de doenças alérgicas é antiga, e teve início na Inglaterra no ano de 1911, pelos pesquisadores Leonard Noon e John Freeman. Os pesquisadores injetaram doses crescentes de extratos de pólens em pacientes acometidos da chamada “Febre do Feno” e observaram uma acentuada queda dos sintomas clínicos como rinorreia, prurido nasal, espirros desses pacientes. Nessa época, os mecanismos de ação da imunoterapia, não eram bem compreendidos.

A imunoterapia é definida como o tratamento de doenças alérgicas, realizado com base em uma vacina de alérgenos, os mesmos que causam a alergia em questão. Esta, por sua vez, eleva a imunidade do indivíduo para que este apresente menos sensibilidade a certas substâncias. Esta técnica de dessensibilização está indicada em casos especiais nos quais o paciente não consegue evitar exposição aos alérgenos e em situações em que não haja resposta adequada ao tratamento medicamentoso.

A imunoterapia consiste na administração de diversas doses, gradativas e cada vez mais concentradas, de extratos de alérgenos, aplicadas em intervalos regulares durante um longo período, que pode variar de um a cinco anos, até encontrar a tolerância clínica desses causadores de alergias em pacientes hipersensíveis, de forma a reduzir a sintomatologia após a exposição a determinado alérgeno.

Na fase inicial ou de indução, administram-se pequenas doses do alérgeno, aumentadas progressivamente, com base na sensibilidade individual de cada paciente, uma a duas vezes por semana, até atingir a dose de manutenção em aproximadamente três meses. A manutenção consiste em aplicações das doses de reforço com intervalo que pode variar de duas a seis semanas por um período de três a cinco anos, na dependência da relação dose resposta.

A imunoterapia atua no sistema imune e conduz a um estado de tolerância a determinados alérgenos, reduzindo a necessidade do uso de fármacos controladores da doença e da sintomatologia a longo prazo.

Apesar de todos os avanços na compreensão das doenças alérgicas respiratórias e do desenvolvimento de drogas eficazes para o controle da inflamação da via aérea e dos sintomas a ela associados, até a atualidade, a imunoterapia ainda é, junto com as medidas de higiene ambiental, a única estratégia terapêutica capaz de modificar a evolução natural da doença alérgica ao induzir a sua melhora e até mesmo a remissão e ao prevenir o seu agravamento, assim como o surgimento de novas sensibilizações, com efeitos duradouros mesmo após a sua suspensão.

As alergias precisam ser diagnosticadas corretamente para que possam ser identificados os tipos de alérgenos para a composição dos extratos, a quantificação dos mesmos para uma dose ótima de cada aplicação e o tempo de duração da terapia. O diagnóstico pode ser estabelecido depois de feitos a anamnese e o exame físico, acompanhados de exames complementares que podem ser testes cutâneos de leitura imediata (Prick Teste), e dosagem do anticorpo IgE específico no sangue.

A imunoterapia é hoje preferencialmente administrada por via sublingual, por ser mais segura e prática.

Estudos controlados demonstram que a imunoterapia específica com alérgenos é eficaz no tratamento de pacientes com asma, rinite alérgica e mais recentemente nas dermatites atópicas.

A imunoterapia alérgeno-específica, quando bem indicada, é o único tratamento capaz de alterar o curso natural da doença alérgica e, em alguns casos, promover sua cura. Previne a evolução da rinite para asma, além de dificultar o desenvolvimento de novas sensibilizações para outros alérgenos nos pacientes hipersensíveis.

Segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia & Sociedade Brasileira de Pediatria, as vacinas para alergia provocam diminuição dos sintomas de rinite e asma, com melhora perceptível na qualidade de vida da pessoa alérgica.

A imunoterapia específica apresenta benefícios únicos de longo prazo que incluem a manutenção da eficácia clínica após a sua descontinuação, a prevenção de novas sensibilizações e a prevenção de asma em pacientes com rinite alérgica. Assim, espera-se manter em repouso ou corrigir uma resposta imune já conduzida de forma exagerada e inoportuna.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, considera-se como critério de cura da imunoterapia específica desde que o paciente fique um ano sem crises de rinite alérgica ou asma; sendo assim, estudos recentes comprovaram 80% de cura e os 20% restantes melhoraram muito tornando as crises muito espaçadas.

A aplicação de dosagens ótimas das vacinas com os alérgenos aumenta a eficácia e a segurança da imunoterapia. Dose baixa de imunoterapia é ineficaz e doses elevadas de vacinas de alérgenos podem induzir uma elevada taxa de reações sistêmicas indesejáveis.

A imunoterapia é uma estratégia extremamente útil no manuseio das alergias respiratórias e mais recentemente na dermatite atópica, onde geralmente induz a remissão prolongada de sintomas, sem a necessidade de uso contínuo e prolongado de medicamentos, possibilitando a redução da dose e/ou da frequência de uso de drogas de alívio e de controle da doença, reduzindo assim o custo total do tratamento, aumentando a qualidade de vida e melhorando o prognóstico em longo prazo.

A adesão do paciente ao regime de imunoterapia específica pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso do tratamento, pois todo tratamento que necessita de longos prazos está sujeito a altas taxas de abandono.

Referências:

  1. Tamine Jandrey da Rosa. Imunoterapia específica para o tratamento de alergias respiratórias: uma revisão sobre seu uso. Rev. Bras. An. Clin. Vol. 49 Nº 4 Nov./Dez. 2017. doi: 10.21877/2448-3877.201600381.
  2. Yepes-Nuñez JJ, Guyatt GH, Gómez-Escobar LG, Pérez-Herrera LC, Chu AWL, Ceccaci R, Acosta-Madiedo AS, Wen A, Moreno-López S, MacDonald M, Barrios M, Chu X, Islam N, Gao Y, Wong MM, Couban R, Garcia E, Chapman E, Oykhman P, Chen L, Winders T, Asiniwasis RN, Boguniewicz M, De Benedetto A, Ellison K, Frazier WT, Greenhawt M, Huynh J, Kim E, LeBovidge J, Lind ML, Lio P, Martin SA, O’Brien M, Ong PY, Silverberg JI, Spergel J, Wang J, Wheeler KE, Schneider L, Chu DK. Allergen immunotherapy for atopic dermatitis: Systematic review and meta-analysis of benefits and harms. J Allergy Clin Immunol. 2023 Jan;151(1):147-158. doi: 10.1016/j.jaci.2022.09.020. Epub 2022 Sep 30. PMID: 36191689.