Hipercromia na região da cicatriz

Por: Dr. Rodrigo Motta 26 de abril de 2019

A hipercromia ou hiperpigmentação da região da cicatriz após a realização das sessões de betaterapia é um efeito adverso esperado após este tratamento irradiante que visa reduzir as chances de formação de um queloide ou cicatriz hipertrófica.

Esta hipercromia, nada mais é do que uma resposta da pele ao processo inflamatório gerado pela radiação beta.

A inflamação estimula a atividade dos melanócitos, fazendo com que estas células produzam mais melanina. A melanina é a proteína responsável pela cor da pele e dos cabelos. Este pigmento em excesso acaba escurecendo a cicatriz e a região ao redor desta, tratadas com a radiação beta.

Esta hipercromia pode ser menos ou mais intensa, e está ligada à capacidade inerente de cada indivíduo em ficar vermelho ou bronzeado quando exposto ao sol. Em geral as pessoas com fototipo de pele I-II apresentam hipercromia discreta na região cicatriz, porém indivíduos com fototipo ³IV ou asiáticos tendem a apresentar mais escurecimento na pele que foi tratada.

Sabe-se que os melanócitos são células sensíveis à comunicação inflamatória, e quando o organismo detecta uma inflamação um estímulo, ele sinaliza liberando mediadores pró-inflamação, mesmo antes do processo da melanogênese ocorrer, e quando esta acontece Além disso vai haver também um estímulo maior das enzimas envolvidas no processo da melanogênese, fazendo com que haja maior produção de melanina naquela região.

Algumas recomendações para minimizar a hipercromia que surge após a betaterapia:

1) evitar o sol algumas semanas antes da cirurgia e da betaterapia para que os melanócitos não cheguem estimulados para o tratamento.
2) evitar o sol durante as sessões de betaterapia
3) evitar o sol após o término das mesmas por pelo menos 2 a 3 meses.

Em geral a hipercromia que surge após a betaterapia tende a ser amenizada com o passar dos meses, mas caso este escurecimento persista e gere incomodo estético, o mesmo poderá ser tratado com formulações clareadoras para uso domiciliar (homecare) e eventualmente associadas a realizações de peelings químicos específicos para o caso sob orientações e cuidados do seu médico. Os peelings químicos são realizados no consultório.

O tratamento consiste principalmente no uso de despigmentantes que poderão agir em diversas etapas da melanogênese:

1) Inibindo a biossíntese da enzima tirosinase, enzima responsável pela conversão da tirosina em dopa, dopaquinona, atuando nas etapas de transformação bioquímica que levam à produção de melanina.
2) diminuindo a atividade funcional dos melanócitos e a migração dos melanossomas e dos grânulos de melanina para os queratinócitos.