Farei betaterapia. Devo evitar algum alimento?

Por: Dr. Rodrigo Motta 8 de janeiro de 2021

Utilizada há décadas, a betaterapia é um tratamento médico reconhecido cientificamente pelas Sociedades Brasileiras de Cirurgia Plástica, Dermatologia e Radioterapia. 

A betaterapia é um tratamento que utiliza partículas beta emitidas por uma fonte de Estrôncio 90 (material radioativo), esse tipo de tratamento irradiante é utilizado para evitar a formação do queloide ou cicatriz hipertrófica, através da inibição da atividade dos fibroblastos na derme e dessa forma diminuindo a produção exagerada de colágeno, responsável pelo aspecto hipertrófico das cicatrizes.

A betaterapia está indicada sempre após a retirada de uma cicatriz queloide ou hipertrófica e em alguns casos de pacientes com tendência à formação desse tipo de supercicatrizes.

Mas devo evitar algum alimento durante as sessões de betaterapia?

Por conta única e exclusiva de seu tratamento irradiante, da radiação beta. A resposta é não! Mas, vamos entender um pouco mais a respeito da interação de determinados alimentos com o processo cicatricial: no pós-operatório imediato, surge no corte cirúrgico, um processo inflamatório local, sinalizando para o nosso corpo que ele deve começar a cicatrização. Porém, esta sequência de eventos pode ser prejudicada na existência de um processo inflamatório já existente ou que venha a se somar ao da cicatriz cirúrgica.

Embora ainda não exista consenso no meio médico principalmente por falta de comprovações científicas robustas; sabemos que alguns alimentos podem auxiliar ou prejudicar o processo de cicatrização, piorando o processo inflamatório na cicatriz e até mesmo potencializando o surgimento do queloide como no caso dos frutos do mar e dos alimentos ricos em gordura animal.

Comer camarão pode modificar os níveis de algumas proteínas no organismo, o crustáceo tem concentrações elevadas de quitosana, uma molécula que favorece a inflamação. E o processo inflamatório é o pior inimigo para quem passou ou vai passar por uma cirurgia.

A inflamação pode aumentar o risco de abertura dos pontos, também pode estimular uma maior formação de colágeno local, elevando assim o risco de desenvolver queloide ou cicatriz hipertrófica.

O camarão não é o único vilão. Para se ter ideia, todos os alimentos ricos em gordura animal e gordura trans, podem piorar o quadro inflamatório.

Evitar ou não evitar o consumo de carne? A carne, por proporcionar aminoácidos essenciais para a síntese do colágeno, deve fazer parte da dieta. Preferência deve ser dada aos cortes mais magros e aos peixes ricos em ômega-3 (ação anti-inflamatória), como a sardinha, salmão, atum e bacalhau. No entanto, quem incrementa o combate à inflamação melhorando a cicatrização são as frutas, verduras e legumes, por serem excelentes fontes de antioxidantes. Quanto mais colorido for o seu prato, mais saudável e rico em nutrientes será a sua dieta!

Para ficar com uma cicatriz fina e discreta, quase imperceptível; além de contar com um cirurgião experiente e habilidoso, também é necessário que a paciente faça a sua parte, e essa pequena tarefa começa com a escolha dos alimentos, apesar desta cobrança nem sempre partir dos médicos. Vale a pena segui-la à risca.

Veja, agora, o resumo do que pode e do que não pode entrar no cardápio para melhorar a cicatrização.

Evite:

Camarão – o crustáceo tem concentrações elevadas de quitosana, uma molécula que favorece a inflamação da pele.

Carne de porco – ela também inflama a pele, o que pode levar a um aumento na produção de colágeno e gerar o queloide.

Soja – as isoflavonas presentes na soja estimulam a liberação de substâncias no corpo aumentando mais e mais inflamação na cicatriz.

Pimenta – ela tem capsaicina, substância que é ótima para as artérias, mas um tanto quanto agressiva para a pele. Melhor evitar nesse período.

Inclua:

Vitamina C – presente em frutas como a laranja, graviola e acerola. Esta vitamina é essencial para a formação adequada do colágeno, para a regeneração tecidual.

Castanhas e nozes – as gorduras insaturadas presentes nesses alimentos, conferem poder anti-inflamatório, além de serem boas fontes de zinco, mineral que garante o equilíbrio entre produção e degradação de colágeno.

Peixes e carnes magras – os cortes magros de carne vermelha incentivam a formação do colágeno, através do aporte de aminoácidos. Já os pescados fornecem ômega-3, gordura com ação anti-inflamatória.

Vegetais arroxeados – a cor indica a oferta de antocianina, um dos antioxidantes mais efetivos para a pele. Cereja, beterraba e berinjela estão cheias dela.

Se você está programando passar por uma cirurgia plástica e tem algum membro familiar (pais, irmãos) com histórico de queloide ou cicatriz hipertrófica, saiba que o seu risco para a formação desse tipo de hipercicatriz está aumentado. Assim, é de grande valia, pensar na adição da Betaterapia após a realização de sua cirurgia, pois a Betaterapia é um procedimento utilizado há décadas, sendo reconhecido cientificamente pelas Sociedades Brasileiras de Cirurgia Plástica, Dermatologia e Radioterapia, e de acordo com os trabalhos científicos publicados, pode-se afirmar que a Betaterapia previne 80% dos casos, a formação do queloide e cicatriz hipertrófica.