Há um grande interesse e necessidade médico-científica de uma melhor compreensão a cerca dos mecanismos pelos quais a infecção pelo novo coronavírus desencadeia sintomas respiratórios, por vezes, graves e levando alguns pacientes à morte.
Recentemente, pesquisadores da FM-USP divulgaram resultados que corroboram a constatação de que o óbito pela Covid-19 é causada por insuficiência respiratória em função de lesões extensas e severas causadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) em múltiplas áreas dos pulmões, denominada de síndrome respiratória aguda grave ou síndrome do desconforto respiratório agudo com lesão difusa do tecido pulmonar.
A ação do vírus se dá predominantemente ao nível das células epiteliais, que revestem os alvéolos pulmonares, diminutas estruturas em formato de bolsas microscópicas que participam do processo de troca de gás carbônico por oxigênio. Uma vez infectadas, essas células podem perder a sua função ou morrer, o que leva a uma extensa lesão nos alvéolos pulmonares. Esse dano compromete a troca gasosa em uma área muito expressiva do pulmão, reduzindo a oxigenação dos tecidos e levando à insuficiência respiratória.
Foi observado pelos pesquisadores, que o vírus infecta todo o trato respiratório, porém causa maiores danos aos alvéolos.
Nos pacientes que desenvolvem a forma mais grave da doença, as lesões são muito semelhantes às que ocorrem na síndrome respiratória aguda grave (SARS) e na síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), ambas causadas por outros tipos de coronavírus.
A análise de tomografia de tórax desses pacientes, tem mostrado que algumas regiões do pulmão são mais afetadas, como as posteriores, e que a infecção compromete ao menos metade do órgão.
Em alguns casos, observam-se pequenos focos de hemorragia na microcirculação pulmonar, associados a focos de trombose microscópicos. Esse fenômeno certamente está associado a distúrbios de coagulação já descritos em pacientes que morreram em decorrência da Covid-19.
É natural e esperado que alguns casos, além da pneumonia viral causada pelo coronavírus, também se associe a essa, a pneumonia bacteriana, causando sérios danos tanto locais, no pulmão, como em outros órgãos, podendo levar até mesmo a um quadro conhecido como septicemia (infecção generalizada).
Aproximadamente 20% dos pacientes infectados pelo novo coronavírus, desenvolvem quadros graves da doença, exigindo internação, e como vimos até aqui, nos casos mais graves, o vírus produz um processo inflamatório em todo o corpo, mas principalmente nos pulmões, gerando pneumonia e prejudicando a capacidade respiratória. O suporte ventilatório garantido pelo aparelho, portanto, faz-se necessário e normalmente está disponível apenas em leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Equipamento chave no atendimento a pacientes graves da Covid-19, os ventiladores pulmonares viraram recentemente, alvo de disputa entre países. A escassez do aparelho gerou uma corrida tanto pelas unidades disponíveis quanto pelas próximas a serem fabricadas. O Brasil, hoje com 65 mil respiradores, está nessa disputa por mais aparelhos.
Porém, quando é tomada a decisão pela ventilação mecânica e como exatamente o respirador ajuda os pacientes com dificuldades para respirar?
Falta de ar e desconforto do paciente são alguns dos sinais que podem indicar a necessidade de ventilação mecânica, além de alterações em alguns exames, como a oximetria ou gasometria, neste, uma amostra de sangue que passa pelas artérias do paciente é coletada, e são analisados os níveis de oxigênio e dióxido de carbono. Analisando o desconforto, a oximetria e a gasometria arterial, a entubação orotraqueal (passagem do tubo respiratório até a traqueia) pode ser indicada pela equipe médica que assiste o paciente. Para realizar a entubação, o paciente é sedado e fica em coma induzido para não reagir ao tubo na traqueia. Passa-se uma sonda pela boca e nariz para fazer a nutrição. É um procedimento de rotina nas UTIs.
O ventilador pulmonar inverte a fisiologia do pulmão. Ou seja, em vez do órgão fazer todo o movimento que permite as trocas gasosas, ele é auxiliado por uma máquina. Para saber se a pessoa está melhorando, os médicos ficam atentos a alguns parâmetros, tais como o volume de ar que entra e sai dos pulmões, e as pressões geradas nessa troca. A preocupação é fazer esse suporte ventilatório, o mais gentil possível, evitando mais danos ao pulmão, visto que o procedimento inverte a fisiologia pulmonar.
O uso do respirador não é um tratamento para a cura da Covid-19, mas age como um suporte. O aparelho oferece tempo para as medicações administradas (antibióticos, antinflamatórios) possam auxiliar e direcionar o paciente para a melhoria do quadro e a partir de informações advindas do exame físico, gasometria, raio-x de tórax, tomografia, a equipe médica vai então avaliando o estado geral do paciente e se o mesmo o está melhorando a ponto de sair do suporte respiratório.