Coronavírus: após a cloroquina, é a vez do remdesivir.

Por: Dr. Rodrigo Motta 8 de maio de 2020

O que sabemos sobre essa nova medicação no combate ao Covid-19?

O remdesivir foi testado pela primeira vez durante a epidemia de ebola ocorrida entre os anos de 2013 e 2016, porém mostrou-se menos efetivo que os tratamentos que utilizaram anticoporpos monoclonais. O remdesivir atua inibindo a enzima RNA polimerase, responsável pela transcrição e replicação do material genético viral, dessa forma, a medicação bloquearia a multiplicação do novo coronavírus nas células do indivíduo infectado.

Assim como os demais antivirais, é provável que o remdesivir seja mais eficaz no início da doença, antes que o vírus possa provocar danos graves aos órgãos, mas essa é uma hipótese que merece comprovação, assim como a possibilidade de efeitos colaterais graves a nível renal e hepático.

O FDA, agência que regula a liberação de medicamentos e equipamentos médicos nos EUA, aprovou em caráter emergencial o uso do remdesivir no tratamento de casos severos de Covid-19. A farmacêutica Gilead, fabricante desse antiviral, ainda não o produz em grande escala, e o seu uso está restrito ao ambiente hospitalar, sendo essa medicação administrada por via endovenosa (pela veia).

Os estudos publicados até o momento, têm demonstrado que o remdesivir não proporcionou benefícios clínicos com significância estatística, porém o seu uso associou-se à redução no tempo de internação. Em uma investigação conduzida pelo National Institute for Allergy and Infectious Diseases (NIAID), dos Estados Unidos que incluiu 1.063 pacientes com casos graves da Covid-19, onde metade recebeu o antiviral e a outra metade recebeu placebo, o remdesivir diminuiu em 31% o tempo médio de internação. Ou seja, de 15 para 11 dias. Assim, podemos dizer que essa medicação está sendo liberado mais por conta da situação de urgência do que por evidências concretas de sua eficácia, mas torna-se uma medicação promissora no sentido de proporcionar um alívio nos sistema de saúde tão sobrecarregado.

A liberação do remdesivir nos EUA ocorre amparada por benefícios modestos demonstrados em um estudo com resultados preliminares. Até por isso, há a preocupação de que o remédio seja alçado cedo demais ao posto de solução contra a pandemia. E mesmo os dados disponíveis não permitem dizer que ele cura os pacientes.

Infelizmente, precisamos de mais dados para tirar conclusões sobre esse medicamento, que tipo de melhora promove e em que situações se aplicaria. Ou seja, devemos tomar muito cuidado antes de adotar qualquer decisão sobre seu uso. Até mesmo a própria fabricante do remdesivir, a farmacêutica Gilead destaca que há poucos dados disponíveis sobre o efeito do antiviral em humanos e não se sabe se ele é seguro e eficaz para o tratamento da Covid-19.

Aqui no Brasil, o Ministério da Saúde anunciou que está acompanhando testes clínicos com essa droga. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, incluiu o remdesivir no SOLIDARITY, um grande estudo multicêntrico internacional para encontrar um tratamento seguro e eficaz contra o novo coronavírus.

Mesmo que o remdesivir se prove eficaz, ele não será empregado isoladamente no tratamento da Covid-19. É importante saber que um tratamento ideal não passa apenas pela eliminação do vírus, mas também que seja capaz de minimizar os danos que possa provocar no nosso organismo e controlar a reação inflamatória desencadeada pela reação do nosso corpo contra o vírus. Por esse motivo, outras classes de drogas vêm sendo testadas, como os anti-inflamatórios e anticoagulantes.

Podemos comparar o remdesivir ao tamiflu, que ficou conhecido por atuar contra o vírus da influenza, causador da gripe. Quando esse antiviral surgiu, imaginava-se que não teríamos mais nenhuma morte por gripe, mas hoje percebemos que não é bem assim.

Se de fato os benefícios do remdesivir forem comprovados, é provável que ele venha então a integrar um “coquetel” contra a Covid-19. Cada remédio desse provável “coquetel”, atuaria nos diferentes mecanismos fisiopatológicos da doença.