Com cerca de 5,5 milhões de casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus no mundo e mais de 350 mil mortos, a corrida para o desenvolvimento de uma vacina tem se intensificado. Mais de cem candidatas estão sendo pesquisadas em vários países, de acordo com as últimas informações da Organização Mundial de Saúde (OMS); sendo que dez delas já entraram na etapa de ensaios clínicos (testes com voluntários sadios) e apesar da divulgação de alguns resultados iniciais promissores, a fase mais extensa dos testes, que exige a observação das pessoas vacinadas por meses, deve ser alcançada apenas no segundo semestre de 2020.
A vacina é a melhor maneira de se proteger e lidar com infecções respiratórias. A principal solução para qualquer infecção viral que tenha poder de causar pandemias é a vacinação em massa. A população desenvolve anticorpos, inclusive com efeito rebanho, em que as vacinadas protegem as não vacinadas. Com a vacinação, o sistema imune “aprende” a combater e eliminar o micro-organismo invasor. O vírus não encontra ambiente, hospedeiro suscetível para se multiplicar e perpetuar o processo de infecção. Então, uma vacina seria muito importante, embora pouco provável no curto prazo.
Tradicionalmente, vacinas levam em média dez anos para serem produzidas. A mais rápida foi a da caxumba, que demorou quatro anos (década de 1960). O desenvolvimento de novas tecnologias acelerou esse processo, e a expectativa atual é que se tenha uma vacina ainda no ano que vem. O otimismo cresceu com o anúncio recente de resultados de uma vacina em desenvolvimento na Universidade de Oxford. Ela é uma das que está em teste clínico mais avançado, e estima-se que possa estar pronta até o fim deste ano.
Os cientistas do Instituto Jenner, em Oxford, estão alguns passos à frente na corrida pela vacina pelo fato de terem usado como ponto de partida uma pesquisa anterior de vacina para outro tipo de coronavírus, o causador da Mers, doença respiratória da mesma família da Covid-19 que atingiu particularmente o Oriente Médio a partir de 2012. Assim, logo que o novo coronavírus, o Sars-CoV-2 surgiu na China, no fim do ano passado, os pesquisadores de Oxford aproveitaram os resultados da pesquisa anterior para a Mers para testá-los em cobaias (macacos rhesus); os resultados foram muito promissores. Com uma dose da vacina, conseguiram imunizar 18 animais.
Para fazer essa vacina, os pesquisadores usaram um adenovírus, que causa resfriado comum, porém inativo e contendo uma proteína do Sars-CoV-2. O estudo de primeira fase, conhecido como Fase 1, imunizou mais de mil voluntários no mês de abril deste ano. Agora, preveem começar testes em mais 6 mil pessoas até o fim do mês.
Vacinas clássicas usam uma versão atenuada do vírus que se quer combater para desencadear a resposta imunológica. Mas, na corrida para combater a Covid-19, novas tecnologias estão em testes na expectativa de serem mais seguras, eficazes e de desenvolvimento mais rápido contra a pandemia.
Uma das estratégias é usar o RNA mensageiro (RNAm) do vírus, a molécula que “lê” as informações genéticas e comanda a produção de proteínas. Aqui também, o principal mecanismo de ação da vacina é o mesmo, induzir o sistema imunológico a agir quando o novo coronavírus resolver atacar. Duas das oito vacinas em fase clínica, da Moderna e da Pfizer, usam esse modelo de RNAm do vírus. Como não é necessário manipular diretamente o vírus, o trabalho fica mais rápido e fácil. A única ressalva, é que ainda não existe nenhuma vacina em uso com esse princípio.
Dona de uma das pesquisas mais avançadas, a farmacêutica Moderna, sediada no estado americano de Massachusetts-EUA, já declarou que, segundo a estimativa mais otimista, sua vacina estará disponível de janeiro a junho de 2021.
A farmacêutica americana Pfizer em parceria com a alemã Biontech SE estão conduzindo estudos de Fase 1 em seres humanos. Se a segurança e a eficácia da vacina forem comprovadas nas fases seguintes, ela poderá estar pronta para ampla distribuição nos Estados Unidos até setembro. Mas a FDA, agência americana reguladora de alimentos e medicamentos, pode exigir estudos mais detalhados para aprovar a imunização da população em geral.
A também americana Novanax anunciou no dia 25 de maio que começará sua primeira fase de testes em humanos, com 130 pessoas.
Da China temos algumas promessas, mas agora, baseando-se em versões inativas do vírus (mais seguras que as atenuadas) que também já estão na fase de testes clínicos. É o caso das vacinas desenvolvidas pelo Instituto de Produtos Biológicos de Wuhan, subordinado ao China National Pharmaceutical Group (Sinopharm) e a outra pelo laboratório farmacêutico chinês Sinovac Biotech. Segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia chinês, “A vacinação de pessoas durante a fase 1 dos testes clínicos, bem como o recrutamento de voluntários para a fase 2 dos testes, começaram em abril.
Devemos ter em mente que as primeiras vacinas que ficarem prontas não necessariamente serão as melhores. Serão só as primeiras. Pode ser que elas só consigam conferir 30% de proteção, mas que já será de grande valia a fim de aumentar a imunidade e diminuir a circulação do vírus e a incidência da doença. Assim, será necessário continuar pesquisando mais para se chegar a melhor vacina possível.
E o Brasil? Existem hoje duas pesquisas em andamento no país, no INCOR e na parceria da UFMG com o Instituto Butantã. A primeira, utiliza moléculas que se assemelham ao vírus, mas não possuem material genético para a replicação viral. A segunda, utiliza um vírus influenza modificado com uma parte de proteínca do novo coronavírus. A corrida é mundial, mas com uma população de 210 milhões, ter um produto fabricado aqui poderá representar também tranquilidade no futuro, e não dependência de importações. É importante testar várias estratégias de vacinas pois ainda não sabemos quais irão funcionar e não podemos apostar as fichas em uma só modelo. Muitos não sabem, mas há fábricas no Brasil que já produzem a vacina contra a influenza em grande escala e que poderiam fazer isso no futuro contra o novo coronavírus se essa estratégia der certo.
Ao longo da história, as vacinas ajudaram a reduzir expressivamente a incidência de muitas doenças e são consideradas sem sombra de dúvidas o tratamento com melhor custo-benefício em saúde pública. E hoje a vacina para combater o novo coronavírus tem a ação e esperança de um mundo inteiro.