A cicatrização nos pacientes bariátricos

Por: Dr. Rodrigo Motta 16 de agosto de 2019

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que um em cada oito adultos no planeta, um é obeso. A projeção é de que em 2025, cerca de 2,3 bilhões de indivíduos estejam com excesso de peso, sendo mais de 700 milhões de obesos. Uma doença que não é mais limitada a países industrializados, a obesidade tem sido associada à um aumento de risco de desenvolvimento de inúmeros tipos de câncer e doenças cardiovasculares.

A cirurgia bariátrica continua a ser o tratamento mais efetivo para obesidade mórbida e a mais associada a outras condições metabólicas, como diabetes tipo 2.

Após a perda de peso que se segue à cirurgia bariátrica, a maioria dos pacientes acaba ficando com a pele flácida e pendente que pode causar, assaduras, dor, infecções, má higiene local, e problemas posturais. A cirurgia plástica denominada de “Body Lifting” ou contorno corporal, é um dos procedimentos estéticos mais realizados que se segue à uma cirurgia bariátrica. Porém, ass complicações na cicatrização após esse tipo de cirurgia são muito comuns, com relatos variando de 8% a 66% entre pessoas que foram anteriormente submetidas à cirurgia bariátrica. Essas complicações incluem seroma, infecção da cicatriz, abertura de pontos, e até mesmo necrose. A melhora do estado nutricional dos pacientes bariátricos é de fundamental importância para reduzir tais complicações.

A avaliação nutricional pré-operatória é obrigatória antes de qualquer cirurgia eletiva seguida de perda de peso. A desnutrição aumenta significativamente o risco de complicações. A cirurgia de contorno corporal eletiva não é recomendada na perda de peso ainda ativa, que pode durar até 18 meses após a cirurgia bariátrica; aconselha-se ao paciente, passar por um período de perda ponderal significativa de até 3 meses, período este e que as deficiências nutricionais podem ser identificadas e otimizadas antes da cirurgia plástica.

Não podemos classificar o indivíduo obeso, como sendo bem nutrido. Há muito, a obesidade tem se mostrado como um estado de desnutrição tanto de macro, como de micronutrientes, e a causa deste paradoxo está relacionada ao fato do elevado consumo de alimentos processados e ultraprocessados, com alto valor calórico e baixa qualidade em nutrientes. E essa carência nutricional tende a ser agravada após a realização de uma cirurgia bariátrica.

As deficiências nutricionais observadas devem-se à redução do suco gástrico, que leva à uma má digestão e absorção de vitamina do complexo B, ferro, e outros nutrientes ligados a proteínas também como secreção de fator intrínseco, que é vital para absorção de vitaminas B12. Adultos no pré-operatório de cirurgia bariátrica demonstram baixos níveis de vitamina B12, folato, tiamina, vitaminas A, C, e D, ferro, magnésio, ferritina, zinco, folato e selênio. Essa deficiência nutricional pode levar à sérias complicações cicatriciais.

Até 25% dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica apresentam risco de desenvolver desnutrição proteico-calórica. A deficiência proteica danifica a cicatrização da ferida, devido a necessidade de proteína para proliferação de fibroblastos, angiogênese, e produção de colágeno. A obesidade é um estado pró-inflamatório com níveis aumentados de fator de necrose tumoral alfa, e os pacientes obesos têm risco aumentado para complicações de feridas secundárias a imunossupressão. Apesar das razões para cicatrização anormal da ferida e complicações no pós-operatório serem multifatoriais, a nutrição desempenha papel crucial no processo de cicatrização. Para pacientes submetidos à cirurgia bariátrica recomenda-se como rotina o consumo de dieta altamente proteica com pelo menos 60 a 80mg/dia, ou 1,5 gramas de proteína por quilograma de peso corporal ideal para prevenir a perda de massa corporal magra.

A anemia por deficiência de ferro é a primeira e mais comum deficiência após a cirurgia bariátrica, ocorrendo em 12%-47% dos pacientes submetidos à cirurgia, principalmente após os procedimentos resultando em má-absorção. A suplementação de ferro de 40-200mg em unidades diárias elementares com vitamina C são recomendadas para melhorar a absorção após a cirurgia bariátrica. Alguns pacientes que não melhoram com a terapia oral podem precisar de administração de ferro injetável ou transfusão sanguínea.

A vitamina C tem propriedades anti-oxidantes e anti-inflamatória, e desempenha papel importante na cicatrização da ferida. Trata-se de cofator essencial na síntese de colágeno. A deficiência leva a problemas de cicatrização da ferida devido a produção de fibras de colágena anormais. A suplementação com 1 para 2 gramas de vitamina C é recomendada para pacientes com lesão ou cirurgia até a completa cicatrização.

A avaliação de um médico nutrólogo é de extrema importância para os pacientes bariátricos que estejam pensando em passar por uma cirurgia plástica.